Tassia Bianchini é natural de São Paulo e se formou em design de produto pela UFPR, em Curitiba. Começou a pintar como uma forma de se expressar pessoalmente e só passou a levar a arte mais a sério após ser incentivada por usuários do Tumblr, onde ela postava seus trabalhos.
Hoje, suas redes sociais são seu principal meio de divulgar suas pinturas. “Como uma artista independente e emergente eu acho que tenho que encontrar meio alternativos e principalmente diversos do tradicional circuito galeria/museu, até para balancear melhor essa coisa que o mundo da arte tem que ter muito dinheiro de um lado e centenas de artistas sem grana do outro” – nos contou Tassia.
Confira um pouco mais dessa conversa:
Inspi: Tassia, primeiramente obrigado pela disposição para conversar com a gente. O que te motiva a pintar? Como flui o seu processo criativo?
Tassia Bianchini: Minhas principais temáticas ou linhas de pesquisa estão sempre por volta do corpo e movimento, transitoriedade, matéria – volume em pintura, memória – no sentido de duração de pensamento, cor, energia. Eu não acredito em inspiração, eu acho que o trabalho do artista é busca constante, em ir sempre mais fundo. Eu acho que os bons trabalhos são aqueles em que eu fui tão fundo, que alguma coisa mudou em mim e a pintura ou desenho é o registro disso.
Quase sempre eu parto da literatura, de uma descrição ou ideia quem vem de estudos em filosofia, mitologia, ou mesmo algum poema, e com essa ideia em foco começa um processo que eu considero bem obsessivo, repetitivo, de fixação daquela ideia na pintura. As vezes eu incluo alguma pesquisa fotográfica também. E daí seguem uma tela atrás da outra, e a ideia vai evoluindo, com algumas pausas para análise e entendimento de para onde o projeto está seguindo. É bem intuitivo.
Inspi: Você consegue viver da arte ou pelo menos fazer da arte um complemento profissional e financeiro atualmente?
Tassia Bianchini: Ainda não completamente, mas estou em busca disso. Fazem 6 meses que tomei a decisão de me mudar pra Amsterdam e assumir esse caminho de forma integral. Antes era como um trabalho meio-período, em que eu trabalhava com design e fazia arte, então tenho muito o que aprender ainda. Mas pelo que tenho vivido nesses últimos meses eu acredito que é possível. Já está sendo, claro que aos poucos, mas estou vendo que é um caminho possível. É questão de usar diferentes canais, se comunicar bem com as pessoas que acompanham meu trabalho, explorar o que a internet tem a oferecer em questão de redes sociais, divulgar, fazer parte e se integrar com a comunidade artística local e ser determinado. Mas há uma linha muito fina entre comercializar o trabalho e se manter fiel à arte.
Inspi: Atualmente você vive em Amsterdam. Há algum motivo ligado a seu trabalho artístico que lhe motivou a se transferir para a Holanda? Há diferenças nesse sentido, se comparado ao Brasil?
Tassia Bianchini: Não. A razão pela qual eu vim pra Amsterdam foi bem pessoal, foi uma busca pelo meu lugar, e por onde me sinto em casa. Mas claro que reflete em tudo, principalmente no meu trabalho. E há muita diferença na percepção e incentivo ao artista por aqui. Existe muito mais suporte, seja do governo ou de iniciativas privadas para financiamento de projetos, estudos, criação de ateliers, exposições. Acho que no geral é um pouco mais fácil seguir essa profissão por aqui.
Tassia Bianchini: Eu sempre tive uma resposta muito positiva do público no geral, mas é claro que quem acompanha meu trabalho gosta de arte abstrata ou se identifica de alguma forma. Eu acredito que a arte abstrata, seja ela em que meio for, possui uma linguagem muito diferente da arte representacional – são duas esferas bem diferentes que podem ser tangíveis – que é relativamente recente na história da arte, as pessoas não estão tão acostumadas com essa forma de expressão. Ela requer um olhar diferente.
Por outro lado, a internet é um universo bem ‘cruel’, porque as pessoas se sentem muito mais confortáveis em falar qualquer coisa. As vezes eu recebo e-mails ou comentários bem críticos, especialmente em trabalhos mais minimalistas, onde as pessoas questionam se uma ‘simples pincelada’ pode ser chamada de arte. Isso é fruto daquela mentalidade de que o artista ter que ser alguém com uma habilidade muito grande de trabalhar com imagens realistas, que já é bem ultrapassada.
Inspi: Quais são suas principais influências?
Tassia Bianchini: Minhas principais influências eu acredito que estão na literatura e na dança, principalmente o trabalho de coreógrafas contemporâneas como Pina Bausch e Trisha Brown. E alguns artistas plásticos como Yves Klein, Hundertwasser, Rothko e Richter.
Inspi: Para você, qual a maior dificuldade hoje para quem trabalha com arte?
Tassia Bianchini: Acho que hoje em dia é tão ‘fácil’ se tornar artista plástico comparado com a trajetória dos artistas ao longo dos anos, que sempre foi uma escolha difícil e destinada àqueles que possuíam talentos além do comum. Mas houve uma quebra dessa ideia de que arte é um desenho/pintura/escultura perfeita. Arte pode ser qualquer coisa hoje em dia. E apesar disso revelar uma abertura e mudança de pensamento incríveis, também deixa muita margem de manobra, digamos assim. Então eu acho que é mais difícil para o próprio artista plástico hoje em dia determinar o que é arte e o que não é em seu trabalho, e principalmente se situar como artista nesse contexto onde as mudanças são muito mais rápidas, ter que lidar com dinâmica do mercado da arte, e viver dela!
Inspi: Quais são seus objetivos e planos para os próximos anos?
Tassia Bianchini: Agora eu ainda tenho muita coisa que descobrir por aqui e me estabelecer melhor. Mas nos próximos anos quero voltar a estudar, talvez um Master em Fine Artes ou alguma coisa relacionada e seguir organizando exposições, é claro! Viajar mais, está sempre nos planos e fazer colaborações com artistas de outros meios é algo que eu quero fazer também.