O artista goiano, Fábio Gomes, ficou conhecido pelo mundo pelas suas artes feitas nos muros de Trindade, no estado de Goiás. Fábio mistura urbanismo, natureza e representatividade negra em seus murais que acabaram conquistando a todos e inclusive pessoas como a atriz Viola Davis e a mãe da cantora Beyoncé, Tina Knowles. Continue a leitura para conhecer a trajetória, o trabalho e conferir a entrevista exclusiva que o INSPI fez com o artista.
Quando tudo começou
Fábio Gomes revelou que não gostava de estudar, mas sempre gostou muito de desenhar, “meu gosto pelo desenho começou desde criança, eu sempre gostei de assistir muito desenho animado, anime, e eu sempre queria passar para o papel, eu também tinha facilidade para reproduzir esses desenhos, mas infelizmente eu não dava muita atenção para a escola, não gostava de estudar, só de desenhar, reprovei 6 anos e abandonei a escola muito cedo.”
Como ele não tinha uma profissão, o jeito foi trabalhar como servente de pedreiro, mas o desenhista nunca esqueceu seu amor pelos desenhos. Segundo o artista, ele sempre levava uma pasta de desenhos para o trabalho, para mostrar para o pessoal. “Eu desenhava no papel e mostrava para os pedreiros, eles viam meu desenho e falavam que eu tinha talento, que eu deveria colocar minhas artes em telas, e eu comecei mesmo a pintar em telas e panos de prato, por exemplo, mas como moro perto de Goiânia, eu sempre via os desenhos nas paredes, os chamados grafites, aí surgiu a ideia de passar os desenhos para as paredes também. No começo foi muito difícil, mas o apoio e o incentivo dos meus colegas de trabalho ao falarem para mim que minha arte poderia dar futuro, que eu tinha talento, isso me deu forças para continuar”, conta Fábio.
No início da carreira como artista, Fábio pedia nas casas para fazer os desenhos nos muros, as pessoas pagavam pouco, pois há 8 anos esse tipo de trabalho não era comum. O desenhista também revelou que lucrava em torno de R$100 por trabalho, uma quantia menor do que recebia em seu trabalho como servente.
Sobre sua arte
“Meus desenhos são inspirados em natureza, fauna e flora brasileira, também gosto de retratar a cultura indígena e afro, sempre tento passar uma mensagem através da minha arte, e sempre estou pesquisando essas ideias para inspirar futuros desenhos”, conta o artista.
A arte de Fábio dá um grande destaque para as questões raciais, por isso o artista costuma retratar figuras conhecidas e inspiradoras da cultura negra. O desenhista mostra através da mistura de arte e urbanismo que as características dos negros são belas e devem ser destacadas. A junção entre a pintura e a árvore dá a impressão de que os galhos são os cabelos das mulheres, isso é um ótimo exemplo de valorização da cultura negra e foi dessa forma que Fábio chamou a atenção de artistas do mundo todo.
“Eu larguei do dia para a noite meu trabalho como servente para pintar, ninguém me conhecia como artista, dois radialistas da cidade me ajudaram muito, divulgaram meu trabalho e eu nunca imaginei que meu nome iria ser conhecido na cidade. Não tenho nem como explicar como eu me senti ao saber que minha arte correu o mundo, eu fico muito feliz em saber que meus desenhos têm chamado a atenção das pessoas, é algo que eu nunca esperava, pois eu não tenho estudo, nunca tive oportunidades, não fiz curso, é um dom de Deus, Deus me deu esse talento e eu sempre busco cada vez mais dar o meu melhor em cada desenho, pois achei que nunca chegaria aonde cheguei”, revela o artista ao INSPI.
Recentemente Fábio também se dedicou a homenagear famosos da música brasileira, e um dos últimos trabalhos finalizados foi um mural para homenagear a cantora Marília Mendonça, que morreu em 5 de novembro de 2021, em um acidente de avião.
Sua inspiração
Seu maior ídolo da arte urbana é o muralista Eduardo Kobra, nascido no Jardim Martinica, bairro periférico da zona sul de São Paulo. O artista contou que se identifica com a história de Eduardo, pois ele também passou por muitas dificuldades, mas conseguiu vencer com sua arte, já rodou o mundo e seu sonho é chegar aonde ele chegou. Kobra entrou para o Guinness Book, o Livro dos Records, pois foi o autor do maior mural do mundo chamado de “Etnias”, feito exclusivamente para as Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016.
Para finalizar, o INSPI pediu para que Fábio deixasse um recado para os artistas que estão iniciando. “A dica que eu deixo é que você nunca desista ou desanime pelas dificuldades, infelizmente no Brasil a arte não é tão valorizada e eu fico triste quando conheço artistas com talento, que poderiam estar fazendo arte, mas infelizmente trabalham em outra profissão por falta de apoio e incentivo. Não desista, se é o que o que você ama fazer, eu acho que vale a pena correr atrás e lutar, para um dia chegar aonde deseja. Já faz 8 anos que eu vivo da arte e há 2 anos que minha vida mudou, hoje eu consigo viver e sobreviver da arte.”
Confira abaixo outros murais feitos por Fábio que colorem as cidades do Brasil.
Fontes: UOL, Cena Pop, Eduardo Kobra