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Exposição em Petrópolis apresenta 250 obras de artistas indígenas do Brasil

Foto: Erbs Jr. (Divulgação)

O Centro Cultural Sesc Quitandinha, em Petrópolis, abriu recentemente a exposição “Insurgências Indígenas: Arte, Memória e Resistência”, considerada uma das maiores já realizadas no Brasil com produção artística indígena. São mais de 250 obras de 54 artistas de diferentes regiões do país, representando povos como Tukano, Desana, Tikuna, Mbya Guarani, Xavante, Karapotó, Tupinambá e Palikur-Arukwayene. O público terá acesso a pinturas, esculturas, fotografias, gravuras, ilustrações e instalações que reafirmam identidades, preservam memórias e atualizam saberes ancestrais.

A curadoria é assinada por Sandra Benites, educadora, antropóloga e ativista indígena, e por Marcelo Campos, curador-chefe do Museu de Arte do Rio (MAR). A assistência curatorial é de Rodrigo Duarte, artista visual e ativista socioambiental, com produção executiva de Vera Nunes, fundadora da Gentilização. O projeto busca construir uma ocupação artística e simbólica no espaço cultural, em diálogo com a diversidade das cosmologias indígenas.

Foto: Helio Melo (Divulgação)

Antes mesmo da abertura oficial, a exposição já vinha promovendo encontros chamados Tata Ypy, expressão Guarani que significa “a origem do fogo”. Iniciados em maio, esses encontros funcionam como rodas de conversa para a troca de saberes, a preservação da memória oral e a reflexão sobre o que significa ser indígena no Brasil de hoje.

“Ao trazer artistas de norte a sul do país, a exposição amplia a visibilidade da produção artística indígena, ao mesmo tempo em que relaciona contextos distintos, como as discussões de gênero, direito à terra, memória, repatriação, tecnologias ancestrais em relação a cultivo dos alimentos, entre outras lutas políticas”, afirma o curador Marcelo Campos.

Foto: Helio Melo (Divulgação)

Para Sandra Benites, a mostra é também um ato de resistência. “A história do Brasil nunca foi contada por nós, povos indígenas. Sempre foi narrada a partir de um olhar externo, que nos reduz ao passado e reforça o apagamento. (…) Insurgências Indígenas nasce para romper com esse imaginário colonial que ainda insiste em negar nossa diversidade. Somos indígenas de muitas cores e corpos, de cabelos lisos ou encaracolados, vivendo tanto nas cidades quanto nos territórios.

Entre os destaques, está um manto Tupinambá desenvolvido por Glicéria Tupinambá. Os mantos, confeccionados com penas de aves, eram utilizados por lideranças do povo Tupinambá antes da colonização europeia e possuem caráter sagrado.

Também destaca-se a obra “Alicerce”, de Andrey Guaianá Zignnatto (povo Dofurêm Guaianá), que subverte a lógica colonial ao erguer blocos de concreto sobre cerâmicas com grafismos indígenas; “Maywaka”, de Keyla Palikur (povo Palikur-Arukwayene), uma releitura
digital de imagens históricas que reaviva memórias espirituais; “Cardume II”, de Ziel Karapotó; e instalações como “Avati Morotî”, de Michely Kunhã Poty, “A memória que hoje volta a brotar”, de Tamikua Txihi, e as “Bonecas Anambé”, de Lia e Luakam Anambé.

Com a proposta de valorizar e fortalecer narrativas indígenas, a exposição convida o visitante a refletir sobre estereótipos, reconhecer a multiplicidade dos povos originários e compreender a arte como expressão política, espiritual e cultural.

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