Quando o Museu Oscar Niemeyer abre ao público, às 10h da manhã, vários colaboradores já estão a postos, realizando funções nem sempre vistas pelos visitantes. Equipes de Limpeza e de Segurança, por exemplo, passam muitas horas por dia dentro do museu. É tempo suficiente para que cada um admire suas obras de arte e eleja suas favoritas.
Dilma Rodrigues dos Santos, há três anos na equipe de Limpeza do Museu, conta que sempre que entra na exposição “O Jardim – Efrain Almeida”, se emociona. Em especial, quando vê a obra “Uma Coisa Linda”, um conjunto com mais de 100 pequenas esculturas de pássaros Cardeais vermelhos no chão da sala. “Parece que estão vivos!”, afirma ela.
A cena era comum na sua adolescência, quando Dilma trabalhava na roça, em Goioerê (PR), colhendo algodão e milho. Por isso a obra chamou muito a sua atenção. Ela conta que nunca tinha entrado num museu até iniciar no MON, onde aprendeu a apreciar o que vê. “Hoje acho um privilégio trabalhar num local onde estão tantas obras de arte”, comenta.
Além de apreciar as exposições, as equipes têm a oportunidade de participar de um programa interno que oferece visitas mediadas aos colaboradores. Lançado em 2020, o programa “Eu Participo!” já teve cerca de 730 participações, em mais de 42 encontros por 27 exposições.
Foi numa das edições do “Eu Participo!” que Ivanélia (Iva) Santos Silva, da equipe de Limpeza do Museu, também visitou a exposição “O Jardim – Efrain Almeida” e se deparou com a obra “Cajueiro”, em aquarela, que a fez chorar.
Natural de Biritinga (BA), Iva foi surpreendida pela sensibilidade do saudoso artista, que era nordestino, como ela, e partiu recentemente. “Eu e minha família sobrevivemos muitos anos vendendo castanha-de-caju, com trabalho duro na roça”, diz.
Segundo Iva, o quadro a fez se lembrar da mata, dos pés no chão e até do gosto do suco de caju. Ela destaca ainda a obra “Mandacaru”, também em aquarela, fruto com o qual convivia e que hoje não encontra facilmente no Sul. “O jeito que esse artista retratou o Nordeste fez eu me sentir em casa, relembrar minhas origens que eu tenho orgulho e que nunca vou negar”, afirma. “Me senti acolhida aqui”.
O retorno às origens também foi o motivo da escolha do seu pedacinho preferido do MON pela colaboradora do setor de Segurança, Regina Costa, natural de Garanhuns (PE). “Me identifico com a exposição ‘África, Expressões Artísticas de um Continente’, em especial pela minha própria ascendência africana, dos meus trisavós maternos”, explica.
Na infância, o contato de Regina com a cultura africana era mais pela gastronomia. Ela lembra de comidas como Mungunzá, mas sabe muito pouco sobre seus antepassados. “Nem ao menos sei de qual país da África eles vieram”, lamenta.
O primeiro contato da colaboradora com a arte africana foi no MON. “Tive uma conexão imediata com a energia dessa exposição. É mais do que arte, as obras têm sentimentos”.
Regina acha interessante elas não serem nominadas por artistas específicos. Destaca, em especial, os tambores, que despertam a sua curiosidade sobre a maneira como foram confeccionados e o som que emitem. “São peças que não foram feitas com a intenção de serem obras de arte, mas sim para rituais festivos, como nascimentos ou casamentos”, observa.
A mesma exposição também é a preferida do colaborador do setor de Infraestrutura do MON, Vanderley Almeida. Sempre que pode, ele passa pela mostra africana e dá uma olhada. “São obras que me remetem aos meus antepassados”, diz. Ele lamenta não saber de que país da África vieram seus avós, dos lados materno e paterno, e diz ter muita vontade de obter mais informações e um dia até conhecer o continente.
Há quase 20 anos no MON, Vanderley é natural de Querência do Norte (PR), mas seus pais vieram de Caculé (BA), onde a família trabalhava com agricultura. Na exposição “África, Expressões Artísticas de um Continente”, ele gosta de admirar especialmente os tambores e outros instrumentos musicais, que o fazem lembrar das histórias que seus pais contavam na infância. “Penso que eram usados em festividades, rituais e cerimônias, como forma de trazer alegria”, diz o colaborador.
Rodrigo Paz, há seis anos na equipe de Segurança do MON, é natural de Curitiba e conta que não teve acesso a museus em sua infância. “Antes de trabalhar aqui, não conhecia nenhum e tinha receio de entrar num museu”, conta.
Quando iniciou no MON, a coleção asiática havia acabado de chegar. “Para mim, foi um choque de cultura”, conta. Segundo ele, a exposição “Ásia: a Terra, os Homens, os Deuses” é exatamente como imaginava ser um museu quando era criança.
Hoje Rodrigo chega a ficar 12 horas consecutivas no MON, pois trabalha em escala de turnos. “É um privilégio, além de visitar as exposições, poder conhecer bastidores e artistas”, comenta. Entre suas obras asiáticas favoritas, ele destaca a escultura “Ganesha”, que está bem na entrada da exposição. “Ela tem grande impacto”, diz.
Também da equipe de Segurança do MON, Raquel Divina de Souza elegeu a sua exposição preferida “German Lorca, Mestre da Fotografia”. “Fico emocionada porque lembra a minha infância, quando pouquíssimas pessoas tinham acesso a fotografias”, conta. Até os 18 anos, Raquel morava num sítio em Rondônia, no município de Rolim de Moura, onde trabalhava na roça.
“Daquela época tenho pouquíssimas fotos”, diz. Algumas imagens registradas por German Lorca trazem a ela lembranças de décadas atrás. Alguns exemplos são as obras “Caipira e Cavalo” e “Chaveiro”, de 1954. “Elas retratam cenas que eram comuns vermos naquela época, quando íamos até a cidade mais próxima, com suas ruas e comércio antigos”, recorda.