O Brasil começou a testar a tecnologia blockchain no setor de seguros. O movimento é pequeno, mas importante. Empresas e reguladores estão avaliando como o blockchain pode reduzir fraudes, acelerar sinistros e aumentar a confiança. Esses testes fazem parte do esforço nacional para modernizar o sistema financeiro. O interesse por soluções digitais cresce também em outros setores, como no mercado de jogos online, onde plataformas com formatos populares, como o jogo da fruta, mostram como a tecnologia pode transformar experiências e reforçar a transparência nas operações.
A Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), principal órgão regulador do setor, tem apoiado vários projetos piloto. Eles fazem parte do “Sandbox Regulatório”, um programa que permite que empresas testem novos modelos com regras mais leves. Essa iniciativa atraiu startups e seguradoras tradicionais que desejam experimentar blockchain sem as restrições completas da regulação tradicional.
Para o Brasil, o seguro em blockchain não é apenas uma ideia. Está sendo testado agora, com dados e usuários reais. Os resultados ainda são iniciais, mas o potencial é evidente.
Por que o blockchain se encaixa nosetor de seguros
O seguro depende de confiança. O cliente precisa confiar que a seguradora vai pagar quando ocorrer um sinistro. A seguradora precisa confiar que o sinistro é verdadeiro. O blockchain reduz a necessidade dessa confiança cega. Ele cria um registro compartilhado que todas as partes podem verificar.
Principais benefícios:
- Dados transparentes: todas as transações ficam registradas em um livro-razão compartilhado.
- Sinistros mais rápidos: contratos inteligentes automatizam pagamentos quando as condições são atendidas.
- Menos fraudes: é difícil adulterar dados registrados.
- Auditoria eficiente: reguladores e seguradoras podem revisar informações com rapidez.
No Brasil, esses benefícios são relevantes. A fraude é um problema sério, especialmente em seguros de automóveis e saúde. Os sinistros demoram semanas para serem processados. Muitos brasileiros desconfiam das seguradoras por causa da lentidão e da burocracia. O blockchain busca mudar essa percepção.
O papel dos contratos inteligentes
Contratos inteligentes são acordos autoexecutáveis escritos em código. Eles seguem uma lógica simples: se uma condição for atendida, uma ação é executada. No seguro, isso significa pagamentos automáticos após a verificação do evento.
Por exemplo, uma apólice de seguro de carro pode estar ligada a dados de telemetria. Se o sistema confirmar um acidente, o contrato libera o pagamento automaticamente, sem papelada. O mesmo vale para seguros de viagem: se um voo for cancelado, o sistema pode confirmar o evento e emitir o reembolso de forma imediata.
Startups brasileiras estão criando sistemas assim, em parceria com seguradoras tradicionais. Elas veem os contratos inteligentes como um meio de tornar o seguro mais rápido e acessível.
Projetos pilotos iniciais
Em 2023, a SUSEP anunciou que três startups lançaram produtos de seguro baseados em blockchain. Um voltado ao seguro rural, outro ao seguro de viagem e um terceiro ao microseguro para populações de baixa renda. Os projetos usaram blockchains privadas ou híbridas para manter custos baixos e cumprir a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
O projeto de seguro rural usou dados de satélite para monitorar o clima e danos às lavouras. Quando a seca ou enchentes atingiam níveis definidos, os contratos inteligentes liberavam o pagamento automaticamente. Os agricultores não precisavam registrar sinistros ou esperar por vistorias. O sistema usava dados confiáveis e verificação blockchain.
No projeto de seguro de viagem, o cancelamento de voos acionava o pagamento automático. As informações das companhias aéreas eram inseridas em um registro blockchain, que confirmava o evento e processava as indenizações sem intervenção humana. O sistema processou centenas de transações sem disputas.
Esses testes mostraram que o blockchain pode tornar o seguro mais rápido, barato e confiável. Também revelaram desafios técnicos e legais que precisam ser resolvidos antes da adoção em larga escala.
Desafios técnicos e legais
O blockchain traz novas questões para seguradoras e reguladores. A maioria delas é prática e técnica.
Principais desafios:
- Privacidade de dados: a LGPD exige proteção rigorosa das informações pessoais. A transparência do blockchain deve equilibrar-se com a privacidade.
- Integração: muitos sistemas de seguradoras são antigos e não se conectam facilmente a plataformas blockchain.
- Padronização: faltam formatos de dados comuns, o que dificulta a interoperabilidade.
- Capacitação: muitos profissionais do setor ainda estão aprendendo como o blockchain funciona.
A SUSEP tem sido cautelosa. O órgão apoia a inovação, mas exige total transparência das empresas participantes. Elas devem mostrar como protegem dados e como auditam contratos inteligentes. O objetivo é construir confiança antes de escalar o uso da tecnologia.
Reação do setor
As seguradoras tradicionais têm opiniões diferentes. Algumas veem o blockchain como útil para automatização e prevenção de fraudes. Outras o consideram caro e sem retorno garantido. Mesmo assim, o interesse cresce. Grandes empresas como Porto Seguro e Bradesco Seguros já exploram o uso da tecnologia, especialmente na gestão de sinistros.
As startups estão liderando o movimento. Empresas como 88i Seguros e Pier Insurance criaram produtos baseados em blockchain voltados para um público jovem e digital. Elas priorizam rapidez, simplicidade e atendimento online.
As associações do setor também estão envolvidas. A Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg) publicou relatórios sobre o potencial do blockchain para compartilhamento de dados e compliance. O tom é cauteloso, mas positivo.
Blockchain e microseguros
O Brasil tem uma grande economia informal. Milhões de pessoas não têm acesso a seguros básicos. O blockchain pode tornar o microseguro mais acessível, com custos administrativos menores. Os contratos inteligentes reduzem a burocracia e automatizam pagamentos.
Para o consumidor de baixa renda, isso significa acesso mais rápido ao dinheiro em situações de emergência. Para as seguradoras, significa menos fraudes e menores custos por apólice. Os projetos piloto em seguros rurais e de viagem mostram que o modelo funciona bem para coberturas simples e de curto prazo.
Se expandido, o blockchain pode tornar o seguro mais inclusivo no Brasil. Pode levar proteção a quem antes era excluído por custo ou falta de confiança.
Influência global e parcerias
O Brasil não está sozinho. Grandes seguradoras e empresas de tecnologia do exterior estão observando seus testes. Parcerias com empresas da Europa e da Ásia estão começando a surgir. Elas buscam testar interoperabilidade e padronização de dados.
Um exemplo é a parceria entre uma startup brasileira e uma empresa suíça de tecnologia. O projeto conecta redes blockchain locais a redes internacionais, permitindo que dados de resseguro circulem de forma segura entre países. Isso reduz atritos e aumenta a confiança entre as partes.
O modelo brasileiro também chama atenção de países vizinhos. Reguladores da Argentina e da Colômbia estudam adotar sandboxes semelhantes.
O caminho para a adoção ampla
O seguro em blockchain no Brasil ainda está em teste. A adoção total levará tempo. O equilíbrio entre inovação e regulação será essencial. Os sistemas precisam ser seguros, compatíveis e fáceis de usar.
Passos necessários:
- Criar padrões comuns para dados de seguro em blockchain.
- Treinar profissionais em gestão de riscos baseada em contratos inteligentes.
- Integrar o blockchain aos sistemas bancários e de pagamento.
- Fortalecer a confiança pública por meio da transparência.
Se esses passos forem seguidos, o blockchain pode se tornar a base do ecossistema digital de seguros no Brasil.
O que isso significa para você
Se você trabalha em seguros, o blockchain vai impactar seu negócio. Os sinistros serão mais rápidos, as disputas menores e novos produtos surgirão. Também será preciso atualizar sistemas e capacitar equipes.
Se você é cliente, o blockchain traz mais transparência. Você terá acesso fácil às informações da apólice, pagamentos rápidos e menos burocracia. Seus dados estarão mais seguros se bem geridos.
Para investidores e startups, este é um momento de oportunidade. O mercado brasileiro é grande, pouco segurado e aberto à inovação. O blockchain pode reduzir custos e ampliar a cobertura.
Perspectivas para os próximos cinco anos
Especialistas esperam que mais projetos piloto se tornem produtos comerciais até 2026. A SUSEP deve ampliar o sandbox e publicar regras mais claras para o uso do blockchain. A penetração de seguros pode crescer, especialmente em áreas rurais e entre a população de baixa renda.
Até 2030, o seguro em blockchain pode se tornar padrão em alguns segmentos. Contratos inteligentes processarão sinistros automaticamente, enquanto reguladores monitoram dados em tempo real. O sistema será mais rápido, acessível e confiável.
Os primeiros experimentos brasileiros servirão de modelo para outros países emergentes. A combinação de regulação flexível, inovação e demanda faz do Brasil um laboratório do futuro dos seguros.
Conclusão
Os primeiros testes de seguro em blockchain no Brasil estão mostrando resultados. Eles ajudam a resolver problemas antigos de fraude, lentidão e desconfiança. Também acompanham o movimento de transformação digital do país. Ainda há desafios, mas o avanço é evidente. O blockchain está levando o setor a repensar transparência e automação. Com regulação adequada e continuidade dos testes, o Brasil pode se tornar líder em seguros baseados em blockchain na América Latina.